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Mostrando postagens de setembro, 2017
acordo quando o dia se deita exploro os cantos escondidos do tempo vago sorrateira sob as costas da noite enquanto as horas tratam de se ajeitar chega o momento em que acorda a tia dos fundos pra requentar o café os cães da casa da frente ladram como quem pede ajuda parece que vai acordar a vizinhança inteira mas não acorda e continuo eu só esperando um cafuné do sol que me toca tão quente o cabelo quanto rápido fecho os olhos procurando por dentro das palpebras algum sinônimo de paz no vermelho alaranjado que a luz traz
onde você se põe eu renasço. encaro essa estrada a minha frente com os olhos de quem teve que ir lá no meio da selva de pedra pra descobrir como caminhar por ela. na poesia sobre os meus cabelos, eu fui lá no conflito mais quente dentro das confusões que eu nunca criei, mas existem porque eu existo. e persisto. e digo que largo tudo quando lá, diante do palco, entendi que zero não é sobre recomeçar, mas começar porque tudo vira novo e aniquila a apatia que se instala toda vez que a saída mais próxima é estancar. eu sou nova agora. mas o meu sentir é tão antigo quanto todas as vidas que vivi e todos os zeros aos quais retornei.
a medida que muda o verso um sinal sutil quase imperceptível surge olhei pro amor e vi outra face de mim olhei para os meus e vi outro jeito de mim aqui eu não caibo nem aí, na sua crítica levada pela mente de outro nem aqui, na minha mente que de tanto pensar não vê mais no teu vazio algum modo de andar e crescer a medida que muda o verso muda o pensamento e o rumo da história que quando se pensa diferente é sinal que a caminhada precisa de uma nova trilha e que o peito precisa de um novo afago e conforto é aí que desperta uma manhã dentro de si tu reside em luz
eu quis escrever um texto cruel demais e sangrar todo o descarrego desse peito calcado em paranóia, mas a minha língua é doce e as letras que ensaiam tragar minha poesia são mais afiadas que a dor que os meus olhos vêem no desespero dos olhos dela. eu quis falar de amor, mas a tinta da minha caneta é tão negra quanto o tom da minha pele e quanto os fios dos cabelos dela -que já são brancos, mas ela insiste em disfarçar a idade. deve ser o medo de que eu perceba o cansaço estampado nos teus ombros. eu quis escrever sobre evolução e espírito, mas o meu próprio anda a mercê desse corpo curvado é o dela há tanto caminha por aqui que transcendeu a elevação. eu quis falar da tristeza, mas ela me calou o choro com uma história que começava assim: um dia você nasceu. um dia você nasceu e ninguém acreditava, de tão pequena, mas eu sempre soube que seria grande. de novo eu quis falar de amor, mas ela amou primeiro e me fez perceber que do amor eu nada sei.