acordo quando o dia se deita
exploro os cantos
escondidos do tempo
vago sorrateira sob as costas
da noite enquanto as horas
tratam de se ajeitar
chega o momento
em que acorda a tia dos fundos
pra requentar o café
os cães da casa da frente
ladram como quem pede ajuda
parece que vai acordar
a vizinhança inteira
mas não acorda
e continuo eu só
esperando um cafuné do sol
que me toca tão quente o cabelo
quanto rápido fecho os olhos
procurando por dentro das palpebras
algum sinônimo de paz
no vermelho alaranjado que a luz traz
é engraçada a espera a gente espera mesmo sabendo que não vem a mente cria mantras sobre nomes alimentando preces sobre aquela chegada e até quem é ateu reza pela hora em que vai ver aquelas pernas passando pela porta a voz no telefone... a mensagem que não chega e vira de novo essa estranha agonia de esperar e vigiar os centésimos dos milésimos dos segundos dos minutos do tempo que nunca passa e aquelas pernas não passam pela porta o telefone não toca a mensagem não chega, e... você não vem.
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