acordo quando o dia se deita
exploro os cantos
escondidos do tempo
vago sorrateira sob as costas
da noite enquanto as horas
tratam de se ajeitar
chega o momento
em que acorda a tia dos fundos
pra requentar o café
os cães da casa da frente
ladram como quem pede ajuda
parece que vai acordar
a vizinhança inteira
mas não acorda
e continuo eu só
esperando um cafuné do sol
que me toca tão quente o cabelo
quanto rápido fecho os olhos
procurando por dentro das palpebras
algum sinônimo de paz
no vermelho alaranjado que a luz traz
o amor hoje é o jeito que eu acordei com o estômago remoendo as borboletas sem conseguir digerir as asas e elas ficam assim meio voando pra lá e pra ca fazendo cócegas na minha barriga ou o jeito que eu acordei naquele no meio do nada e o banho de cachoeira depois do sol invadindo meus cantinhos todos a água é tão gelada quanto o frio que da na espinha da nunca aos pés quando os dedos dela te tocam dos dedos entrelaçados e em cada espaço entre um corpo e outro há de se ver sem falhas um universo e mais outro e mais mil pois cada um tem o seu e cultiva ali, naquele espaço entre um corpo e outro uma fusão de cada um o amor, hoje... é o jeito que os olhos marcam cada detalhe como fossem câmera fotográfica pra mais tarde deitar a cabeça no travesseiro e ver tudinho refletir num sonho bom.
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