eu quis escrever um texto cruel demais e sangrar todo o descarrego desse peito calcado em paranóia, mas a minha língua é doce e as letras que ensaiam tragar minha poesia são mais afiadas que a dor que os meus olhos vêem no desespero dos olhos dela. eu quis falar de amor, mas a tinta da minha caneta é tão negra quanto o tom da minha pele e quanto os fios dos cabelos dela -que já são brancos, mas ela insiste em disfarçar a idade. deve ser o medo de que eu perceba o cansaço estampado nos teus ombros. eu quis escrever sobre evolução e espírito, mas o meu próprio anda a mercê desse corpo curvado é o dela há tanto caminha por aqui que transcendeu a elevação. eu quis falar da tristeza, mas ela me calou o choro com uma história que começava assim: um dia você nasceu. um dia você nasceu e ninguém acreditava, de tão pequena, mas eu sempre soube que seria grande. de novo eu quis falar de amor, mas ela amou primeiro e me fez perceber que do amor eu nada sei.
é engraçada a espera a gente espera mesmo sabendo que não vem a mente cria mantras sobre nomes alimentando preces sobre aquela chegada e até quem é ateu reza pela hora em que vai ver aquelas pernas passando pela porta a voz no telefone... a mensagem que não chega e vira de novo essa estranha agonia de esperar e vigiar os centésimos dos milésimos dos segundos dos minutos do tempo que nunca passa e aquelas pernas não passam pela porta o telefone não toca a mensagem não chega, e... você não vem.
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