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Mostrando postagens de 2017
acordo quando o dia se deita exploro os cantos escondidos do tempo vago sorrateira sob as costas da noite enquanto as horas tratam de se ajeitar chega o momento em que acorda a tia dos fundos pra requentar o café os cães da casa da frente ladram como quem pede ajuda parece que vai acordar a vizinhança inteira mas não acorda e continuo eu só esperando um cafuné do sol que me toca tão quente o cabelo quanto rápido fecho os olhos procurando por dentro das palpebras algum sinônimo de paz no vermelho alaranjado que a luz traz
onde você se põe eu renasço. encaro essa estrada a minha frente com os olhos de quem teve que ir lá no meio da selva de pedra pra descobrir como caminhar por ela. na poesia sobre os meus cabelos, eu fui lá no conflito mais quente dentro das confusões que eu nunca criei, mas existem porque eu existo. e persisto. e digo que largo tudo quando lá, diante do palco, entendi que zero não é sobre recomeçar, mas começar porque tudo vira novo e aniquila a apatia que se instala toda vez que a saída mais próxima é estancar. eu sou nova agora. mas o meu sentir é tão antigo quanto todas as vidas que vivi e todos os zeros aos quais retornei.
a medida que muda o verso um sinal sutil quase imperceptível surge olhei pro amor e vi outra face de mim olhei para os meus e vi outro jeito de mim aqui eu não caibo nem aí, na sua crítica levada pela mente de outro nem aqui, na minha mente que de tanto pensar não vê mais no teu vazio algum modo de andar e crescer a medida que muda o verso muda o pensamento e o rumo da história que quando se pensa diferente é sinal que a caminhada precisa de uma nova trilha e que o peito precisa de um novo afago e conforto é aí que desperta uma manhã dentro de si tu reside em luz
eu quis escrever um texto cruel demais e sangrar todo o descarrego desse peito calcado em paranóia, mas a minha língua é doce e as letras que ensaiam tragar minha poesia são mais afiadas que a dor que os meus olhos vêem no desespero dos olhos dela. eu quis falar de amor, mas a tinta da minha caneta é tão negra quanto o tom da minha pele e quanto os fios dos cabelos dela -que já são brancos, mas ela insiste em disfarçar a idade. deve ser o medo de que eu perceba o cansaço estampado nos teus ombros. eu quis escrever sobre evolução e espírito, mas o meu próprio anda a mercê desse corpo curvado é o dela há tanto caminha por aqui que transcendeu a elevação. eu quis falar da tristeza, mas ela me calou o choro com uma história que começava assim: um dia você nasceu. um dia você nasceu e ninguém acreditava, de tão pequena, mas eu sempre soube que seria grande. de novo eu quis falar de amor, mas ela amou primeiro e me fez perceber que do amor eu nada sei.
uma estação testemunhou a minha transgressão luz véspera de ano novo no meu peito e nas mãos a apreensão de quem se vê mudar de pele de dentro pra fora renascendo ali: na luz do dia da cidade cinza tão viva quanto o céu azul da planície tão luz quanto a estação que testemunhou a minha transgressão
a poesia me tomou num súbito eu entrei numa linha a caneta escorreu meu peito entre metáforas e trocadilhos mal feitos do gosto pela bagunça na falta da lírica perfeita arriscando versos sem rima porque a métrica não faz falta quando a poesia te toma e a poesia me tomou. num súbito.
gozo poemas sobe a estupidez humana e a maldade ingênua que carrega sua mente vazia ao se achar dona da verdade falo das feridas compostas por mãos sujas e honro minha própria bondade em nome da sanidade escassa que ainda reside neste corpo calo a boca das angústias deste estômago febril e consumo mais um catástrofe sumo por aqui e chego a lugar nenhum mas volto de mim um pouco maior que da última vez que me perdi encontro o paraíso nas linhas deste caderno e depois que o peito se alivia de tanta agonia o amor retorna ao lar porque já fui espera ao desabar e sobrevivência ao reparar de ouvidos atentos que escutar carrega mais sabedoria do que falar e aprendi que aprender é parte de ser e ensinar é rotina de se entregar
calo vazios calo a inconstância que se aloca em alguma parte perdida dentro da minha cabeça calo verdades que não quero escutar de mim portanto o papel não as vê também calo a letra que inicia esse poema e guardo em mim até que não haja jeito de prender meu peito é a própria faixa de Gaza e tudo que se cala explode por todos os cantos em conflito na minha pele
I - Desistência Elena Eu tô no fim de tudo La onde cê foi dançando sozinha no quarto E recitando João Cabral de Melo Neto Eu to indo também É que eu não tenho banheira nem sedativo Mas eu chego lá Eu arrombo a porta se for preciso É que ficar dói demais, Elena E também desde aquele dia Que cê virou agua Eu tô afim de te conhecer Eu vou pra aí te ver, Elena II - Se eu continuo, é pelos olhos do meu amor. Elena eu voltei do fim de tudo voltei porque ela tem uns olhos que ficam aqui bem no meio de tudo e você sabe o que é tudo não sabe, Elena? pois bem ela tá exatamente bem no meio e me atrai mais que a ideia de uma revolução camponesa e eu só penso que os fuzis desse povo todo do campo não mataria mais do que aqueles dois universos castanho meio-a-meio
Hoje, sem querer, eu vi alguém escrever no corpo uma homenagem à tua juba e o cigarro caindo da boca. Eu não sei, deu um nó na garganta. Acho que eu ainda espero você me ligar pra a gente dar um rolê de bicicleta pelo Rio, sabe? Pra eu te socorrer caso cê solte as mãos e entre na frente de um carro ou pra a gente sentar na estátua da praça XV com os capacetes na mão e esperar anoitecer pra dar uma olhada na juventude pós moderna curtindo um som ali no Teles. Ou eu espero ainda que a gente volte lá naquele show da Tulipa que a gente não conseguiu entrar, mas valeu a noite rodar de bar em bar declamando poesias que cê nunca tinha me mostrado antes e a manhã seguinte que eu saí corre do da tua casa, atrasada que eu tava. A gargalhada do Marcus ecoou a sala toda rindo da minha falta de jeito, cê lembra? Que droga, sabe? Pense aí em alguém imortal. Pois é. Sabe quando cê vai, fica no seu cantinho, mas sabe que a pessoa ainda tá lá e tem a vaga impressão de que ela sempre vai e
"O tempo é uma uma coisa relativa. Se hoje fosse ontem, amanhã seria hoje. E como diria o síndico: vai saber o que o gorila pensa." Na primeira hora eu penso que nem devia ter acordado, mas eu penso no que viver me trará de bom naquele dia. E traz. Numa hora eu tenho os chamegos do meu amor, que não bastando é a conversa, o dia que se faz naquele minuto e define todo o rumo do resto. Depois eu tenho a hora em que eu sigo sendo o que eu quero dentro do que eu deveria e do que eu posso ser. E eu sempre escolho o que eu posso ser. As horas, elas definem o que eu sou em um dia, mas eu sei que sou muito mais. Eu sou o cigarro a varejo no bar depois de encontrar a galera mesmo quando eu estava a caminho de casa. Eu sou a ansiedade de manhã esperando ela acordar, porque é fato que a saudade aperta e mesmo quando ela tá dormindo eu penso que estar junto seria a melhor de todas as hipóteses que a minha mente constrói em um minuto. Eu sou aqui. Eu sou agora. Tudo é ansei
Nós éramos nós. A tatuagem no antebraço esquerdo significava mais pra mim do que eu pensava. O cabelo desgrenhado no meio de toda a bagunça sinalizava a presença aquém do que existia entre nós. Um cigarro às cinco da manhã e eu me sentia tão unida a sua fumaça de acordo com o que tu era. É. Tu: é o vício nas noites insones esperando uma resposta. As quartas feiras cravadas, sobre um texto a cerca da corda moldada no pescoço. Mas eu não posso. Nunca mais. E saber que eu não vou estar la, se a corda arrebentar e sufocar o teu pescoço é como saber que eu condenei o amor a uma prisão perpétua. Mas eu não vou estar. Eu não quero estar. Não depois de saber que de toda dor, desgraçada em amor, eu sou só o que te salva. Só, porque eu te salvo, mas quem afunda sou eu. Não mais. Eu não tô aqui. O tempo fez uma descarga de tudo o que me prendia nesse tempo, seu. Passou. E deixar ir me parece descuidadoso. Mas eu preciso cuidar de mim. Adeus.
o meu amor dói na garganta dor de grito preso que to guardando mais de dias peso de um amor inteiro atravancado nas cordas vocais aí o meu amor dói e não desce nem faz digestão que ele quer é pular da boca pra fora e mudar toda a concepção dessa expressão aí o meu amor dói e vira passageiro preso numa estação igual eu quando passo la na rodoviária e vejo ônibus saindo pro ceará e o meu amor dói mais ainda dói nas pernas mai eu juro que noite dessas eu quis ir andando até lá e num tinha dor nas perna que me arregace de bater la na porta de joelhos o meu amor dói na hora de acordar que eu queria era abrir meus olhos e beijar os oim dela
Eu bagunço os teus olhos e desejo a tua carne como sacrifício das minhas entranhas estragadas, eu bagunço os teus olhos porque sei que vermelhos eles são mais expressivos do que eu quando quero dizer que os amo e que desejo sim entre as minhas pernas os teus labios, mãos, desejo aplicado numa equação que resulta sempre em nós. Não tem, não existe erro em estar louca e você tem o melhor dos dois mundos: o que pertence aos teus anseios e aos que pertencem aos meus desejos interrompidos pelos afazeres do meu dia, mas que não minam a vontade de andar dois mil quilômetros e poucos pra adentrar os cabelos réus num cheiro que capta a alma do que te apossa e entra em mim como uma faca rasgando do bucho até lá embaixo e não doi. Não dói porque você me cura até de mim e do que eu mais tenho medo cá dentro e não é possível colocar pra fora. É amor. Toda a bagunça. Todo o tumulto. Uma bela bagunça.
Me demonizam. Eu sou, para eles, qualquer experimento científico que deu errado, menos eu mesma. Eu sou o profano, o incompleto, a peça a mais no quebra-cabeça e eu não me encaixo. Em casa, eu sou o disfarce, o assunto que nunca tocam, a fase. Na rua, eu sou alguém até eles saberem. No rolê eu sou a possível realização sexual de um homem qualquer. Mas quando ninguém tá vendo, eu sou a dança estranha e feliz por ninguém estar vendo; eu sou um quarto bagunçado que se ajeita bem na bagunça que eu tenho por dentro e o alívio por ninguém estar vendo; eu sou a preguiça, os desenhos de manhã, as leituras, a carência do cafuné de mãe, mas principalmente o alívio por ninguém estar me vendo. E assediando. E se afastando. E mudando de assunto. Aqui, onde eu me escondo, eu sou eu e sou tão igual a você quanto eles. A diferença de mim pra você, é que eu gosto dela.
Eu a descobri. Ela tem uma coleção de pintas sobre os seios que sobem um pouco mais até os ombros, mas tem uma ali no pescoço que me deixa perturbado das idéias. É um imã e certamente é o lado positivo. O lado negativo são os meus lábios que tratam logo de se alojar ali e criar vontade própria, a fim de se demorar e absorver daquele sinal tão pequeno a imensidão das estrelas que compunham aquele corpo. Só pode ser feita de estrelas. Ou de qualquer coisa que venha do céu, porque não é possível que seja meramente humana aquela pele, aquele toque tão sutil que desarma toda a minha grosseria. Ela tem também esses sinais nas laterais das coxas que eu, particularmente, sinto que é um abismo prestes a me atirar numa queda livre de luxúria. É que a partir daí, o que eu avisto não consegue conter cada besteira que passa pela minha mente e a urgência em por em prática por puro prazer. Meu e dela. Dela ainda mais, porque não existe nada que me deixe mais ligado do que as reações qu
Querida, Eu estou no fim de tudo. Caminhei os doze passos, um dia de cada vez. Era isso que dizia aquela música, você lembra? Aquela que eu te contei, escutei todos os dias durante meses dentro daquela porra daquela clínica. "Passo um dia feliz sem você", poderia ser sobre a falta que você me faz e eu felizmente tenho conseguido seguir hora após hora sem voltar a te perturbar. Ainda assim, eu preferia que esse trecho resumisse unicamente essa falta. É mais fácil lidar com o fato de estarmos tão distantes, do que enxergar o poço de mentiras e conflitos que eu me tornei por causa da cocaína. O suor frio que me escorre a nuca, noites febris, a falta... eu preciso dizer que eu dei uns passos pra trás e por isso resolvi te procurar. Tem sido dificil porque essa porra de um dia de cada vez não passa, o tempo ta parado e ainda assim a minha barba cresceu, meu cabelo perdeu até aquele corte engraçado. Eu sou inteiro um caminho perdido. Voltei pra casa, saí de novo, me p
olha, eu sou o desajeito, entende? eu ando numa corda bamba em pleno centro de uma via de mão dupla e enquanto eu atravesso no meio dos carros, o amor passa por cima de mim e destrói o que me cabe. doeria menos se fosse aquele caminhão da placa estranha que eu vi outro dia. vê? eu sou o desalento. eu sou a construção desamortizada no fim da rua. e o amor passa na porta, sem sequer cogitar a hipótese de parar pra escutar minha história. tu vê? dos três mal amados eu sou um quarto que nunca entrou naquela prosa porque o maldito do amor comeu eles tudo e não sobrou espaço pra mim. porque eu sou o desequilíbrio, tu consegue ver?
eu te deixei um poema gravado pra ler ao acordar. depois daqueles fatídicos três anos, desisti de olhar nos olhos dos meus afetos buscando algo que não me asfixiasse assim que o meu sentir se tornasse pleno. eu mergulhei em piscinas artificias, rasas e ainda assim me afoguei. você disse que algumas pessoas não tem fôlego pra tudo isso que a gente guarda dentro do peito e eu notei nessa hora o quanto a gente submergiu juntas nesse oceano infinito de tudo que já machucou e agora somos cura. fiz um poema pra tua alma e pra tua risada sem jeito. quase dormi no meio dessa prosa, até lembrar do seu sorriso. Despertei do sono e de um estado letárgico lírico mais profundo que o que há ao redor dos nossos detalhes. É gostoso pensar plural quando penso no que estamos levando adiante e construindo todo dia um pouco mais. Tu anda por minha liberdade e desbrava as minhas convicções, como quem habita essas terras desde que o mundo é mundo. Vive comigo. Fora do que é convencional, o q
em cada encontro depois num único encontro eu quis te levar pra qualquer lugar mas me contentei em levar tuas estradas pra minha alma e guardar os detalhes da tua caminhada tranquila e sem rumo pelas rotas do meu interior
como se tu fosse a esfinge tratei de tentar te decifrar mas antes que eu sequer obtivesse qualquer indicio de sucesso você me devorou lentamente sem mastigar parte alguma e me aprisionou bem em teus olhos.
então, é nessas madrugadas de luzes apagadas que se acendem as idéias e nelas moram todas as palavras que eu não pronuncio durante o dia e nem hora nenhuma mas tonteiam a minha mente esperando a hora de despertar e se derramarem fixas no papel como quem pula de cabeça numa piscina, num abismo ou num amor.
de repente juntam-se todas as dores. dói o amor, dói o corpo, dói alma e espirito. se minha vó inda vivesse, diria que a solução é juntar tudo e jogar fora. ô vó se eu me jogar por inteiro será que alguem pega pra consertar? eu to com uns defeitos aqui, umas rachaduras que não sei se da pra remendar e... ainda que desse não ficaria tão bom quanto o seu cobertor quentinho todo feito de retalhos. que na verdade, vó, eu nem sei como se remenda se os meus próprios retalhos são frágeis demais pra aguentar uma costura.
você sabotou a minha poesia minha concentração. o meu caderno de anotação ta cheio de frases não terminadas que me levam a pensar que não há frase na vida que iniciará um poema ou uma prosa sobre tuas pernas fascinada que sou por elas, mesmo que nunca as tenha visto e adoraria que me encontrassem no ar ou no meio do caminho pra eu finalmente descobrir onde começa e onde termina todo esse teu infinito no qual eu meu jogo em queda livre e caio. sem medo do que me aguarda ou me guarda.
minny poema. essa menina... ela é o buraco negro do meu mundo aquela fenda minuscula que ta lá e eu nem vi mas ela ela atrai meus metais e todos materiais do meu corpo ela atrai... e diferente do buraco negro que destrói tudo a sua volta ela constrói ela da vida essa menina... e eu sem reclamar me deixo sugar pelos cabelos dela pelos olhos dela pelas mãos... aquelas mãos, acho que são elas a fonte de toda minha assimetria poética e de toda minha veneração patética e a voz dela reverbera por todos esses meus tubinhos que vocês chamam de arteria que quando chegam lá vocês sabem, no coração eu já me desmanchei todinha de amor por ela.
o verniz sempre desgasta. as pernas de madeira daquela mesa afrouxam tal qual o descompasso dos nossos passos que antes compassavam lado a lado e mesmo que a estrada fosse contraria o teu passo ecoava pelo meu caminho como se fosse a tua música favorita guiava tanto quanto a estrela dos três reis magos e a tua mão atravancada a minha era um presente mais valioso que o que aquele menino lá ganhou quando nasceu.
eu nunca fui boa em física nunca fui, mas a eletricidade... não é preciso entender muito de física quando se sente passar pela pele correntes de sei la o que e o choque quando o atrito... e nestas reticências eu guardo o segredo da descoberta de que quando um quer e o outro também os dois brigam mas é com quem inventou que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço.
eu odeio as quatro da manhã porque ela tem o poder de me fazer relembrar e eu não consigo afastar da vista a nossas cenas sempre as quatro horas da manhã querendo ir dormir mas imersos de mais nos dedos um do outro pra deixar que qualquer obrigação os descruzasse a não ser que fosse pra tu ir naquela boteco que nunca fechava só pra comprar um maço de cigarro enquanto eu preparava um café e esperava que às quatro e trinta, ao invés de chegar lá você chegasse aqui e pudéssemos por em prática todos desejos que as quatro da manhã por entorpecencia ou vontade nossas bocas se encarregavam de cuspir como quando um fumante se enche de saliva depois de tragar e a fumaça era o branco que dava quando num interminável amontoado de promessas a gente esquecia que já eram quatro horas da manhã.
existe um som no teu silêncio ainda não descobri como ele é mas me passa pela ideia que ele seja como a voz materna para um filho que ainda nem saiu do ventre como os agudos da aretha franklin e baby you make me feel like a natural woman misturando duas linguas que eu mal domino soterrada sob fragmentos da tua fala que sugerem uma pausa pra absorver o que dizem os astros buzios, bíblia, qualquer coisa e enquanto todos falam, tem esse teu silêncio...
num dia ela tem do outro lado quem lhe prenda entre os braços e num mata-leão pre destinado lhe jogue na cama como um bicho e os olhos de vontade quente de entrar e morar ali na vagina, nos seios, nos olhos e depois quando se vai fica a vontade morna de morar ali e la fora, na chuva ácida derretendo a tinta das paredes e decapitando a alma das córneas que eram moradia e quando chega o outro dia não há sol que esquente nem os cantos, nem a pele nem a partida.
[introdução a uma história de desamor] Eu já vi essa cena antes. A gente vai ficando porque o medo da solidão quando se instaura, é mais gelado que o Rio Grande do Sul nos teus graus negativos. Da medo, sabe? Congelar por dentro me parece muito mais doloroso e talvez por isso virar a esquina também me pareça tão trágico quanto um filme de drama onde enquanto um continua parado em frente a própria casa sentindo o frio se abater o outro pega a próxima rua à esquerda e continua andando sem olhar pra trás até sumir de vista. -eu, geralmente, sou a pessoa que toma o rumo sem olhar pra trás. Poucas foram as vezes em que eu fiquei pra contar passos na direção contrária e sinceramente, não me orgulho disso. Virar a esquina sozinho não é nenhum ato de amor próprio, muito menos egoísta. É solitário e quando finalmente se olha pra trás, as ruas já mudaram de lugar e é difícil voltar. Mas, mais uma vez, eu já vi essa história antes. A gente parte porque é insuportável pensar em fica
absolutamente zero quando um e um se ajunta e se anula não que um e um dê menos é que dois se arrebatam de corpo e tudo sem cair nem um cílio e na volta não faz sentido nem ser um só.
não é que doa. cansa. cansa brotar flor na pele pra alguém não cultivar, por puro desleixo com as sementes que o outro, mesmo com medo ou vergonha, rega pelo corpo pra deixar florescer. e se pragueja esse tal de amor, as línguas já apontam de mal amado. pois é mal amado mesmo! quem é bem amado, já virou um roseiral inteiro ou aquele campo de girassóis no meio da estrada. e todo dia é o corpo do amor que vira chafariz. daqueles bem gigantes que irriga o coração inteiro. é disso que eu tô falando: se a gente cuidasse do amor do outro como cuida das sujeirinhas do próprio umbigo, num ia ter nesse mundo quem cansasse de amar.
as veiz bate aqui tipo tambor de terreiro tipo grave de trio elétrico no carnaval as veiz bate entre as coxas, nos seios na nuca a quando para de bater, voa atravessa a garganta e sai pela boca as veiz volta e soca o estômago pior que nocaute em final de UFC mais doído que aquele olho roxo no Clube da Luta as veiz morre em alto mar dentro de um barco a deriva e nem chega até a areia pra pelo menos fazer jus àquela expressão as veiz bate de novo espanca o corpo inteiro e marca as costas mais que açoite as veiz um monte de coisa e sempre é amor.
Quando me olhar  o faça sem os dentes  e não me arranque um pedaço da alma  que esta ja está em pedaços  fazendo trilha pelo chão  pra eu não me perder  quando chegar até você.
Eu entendo coisas que eu nunca quis saber. Nunca busquei absorver.  Mas as vezes a vida esfrega o próprio corpo no meu como se fosse uma meretriz vampira que me suga em troca do próprio prazer.  Eu me sinto cobaia de uma experiência pouco provável de obter sucesso.  Todo dia é como andar numa corda bamba, onde caminho para o fim, mas vez ou outra volto ao início como se um botão de reset fosse acionado.  Um jogo divertido de xadrez entre a vida e a morte, eu sendo a rainha, destroçada vez por uma, vez por outra.  Dormindo e acordando no cansaço de tentar atacar as peças negras do tabuleiro, pra me esquivar das chances de abandonar o jogo antes da hora.  Buscando no calendário da alma, o dia que eu estive lá.
agora todo dia depois da meia noite é isso  você atravessa minha garganta  fica la entalado, me olhando por dentro  e se recusa a descer  agora, todo dia depois da meia noite é um martírio  quando a minha vista embaça cheia de água  você nada nas minhas palpebras  lentamente  como quem aproveita um fim de semana na praia  mas são só os meus olhos  são só minhas mãos tremendo  até o corpo inteiro  sou só eu.  só.
apollo dezessete  enquanto milhares de pessoas  adentram lojas caras  e saem de lá com lantejoulas  querendo roubar o brilho  das luzes brilhantes à anos luz daqui  enquanto a nasa vagueia pelo espaço  em busca de vida ou um sinal qualquer  e os adolescentes da era digital espalham  nebulosas por todas as redes sociais  você guarda nos olhos o segredo  milenar das estrelas  e a tua chegada é o próprio big bang:  um universo novo se cria  a cada passo teu.
eu sinto tanto a sua falta  que chega a ser loucura  vira e mexe a sua risada ecoa  de repente na minha cabeça  e eu queria te ligar pra contar do meu dia,  mas parece que o assunto  fugiu de nós  agora outra pessoa deve ocupar essas minhas duas horas da tua atenção e esse não é um problema na verdade, mas te ver e enxergar o meu remédio contra insônia e pesadelos sem saber se ainda posso "usar", ver a cura dos meus pensamentos perturbados e constatar que agora és parte da causa deles.  nessa mistura: a saudade. esse pontinho preto no meio do coração, feito mira de atirador de elite, esperando que alguém puxe o gatilho pra matar essa maldita. alem do céu que você traz no seu olá, que quando junta com o meu, agora chove.  você se recolhe aí. eu aqui.  e eu continuo sentindo  tanto  a sua falta  que chega a ser loucura.
um grito preso na garganta  se esgueirando pelas linhas em branco  com preguiça de ficar e  marcar, ali, o vazio da manhã chuvosa  além do comodo quase sem mobília  que guarda por trás dos desenhos na parede  um rasgo do estrago da solidão  o cansaço às dez e trinta da noite  estalando no finalzinho da coluna  enquanto a juventude se preocupa  em esbanjar o próprio tempo nos bares lotados  afirmando pra si mesmas a própria independência  tão dependente ainda quanto eu sou  do meu quarto  a insônia dando boa noite pro sol  às cinco da manhã  e a vontade de ficar ali até...  mais os vinte e poucos anos  que sacodem a cama anunciando um  apocalipse interno:  o fim está próximo
a gente é uma volta e meia ao redor de nós  e mais nós que saltam dos olhos no ônibus  no esbarrão atravessando a praça XV no medo  de perder a próxima barca pra Niterói  a confusão daquela menina que veio de fora  pra se encontrar no metrô da Sé  e pegar o amor de surpresa parado ali  sem saber o que lhe aguarda  a gente é o bar depois do trabalho  às vinte e três horas em ponto  o happy hour na praça de sempre  com as pessoas de sempre  se encontrando como se fosse  a primeira vez  a gente é o frio na barriga no caminho  até Jacarepaguá  e o cafuné no sofá de noite antes de dormir  ou a risada contida na sala de madrugada  pra não acordar o resto da casa  e que nunca deu certo porque faz mal  prender a felicidade desse jeito  a gente é a hora que acorda em casa  com vontade de estar la do outro lado  naquele quarto pequeno que parece lotado  porque só cabem dois  mas existe tanto dentro de nós  e dos nós  a gente é a rota de todo dia pro mesmo lugar  trabalho. casa. faculdade. casa.
nós somos um erro astronômico  a prova de que o big bang deu mais errado  do que certo  entre uma colisão e outra fomos  a explosão astrológica mais sem sentido  que o horóscopo do dia  que aliás hoje dizia pra eu não usar fantasia  e procurar não esbarrar com você  por ai
quando eu me canso de mim,  é a deixa do tempo pra eu ir embora  virar com o vento a favor do meu plano de voo  e nascer de novo em outro lugar  dentro do meu próprio corpo  quando eu canso de ti  é a deixa do meu tempo pra você ir embora  virar com o vento contra o meu plano de voo  e morrer em todo lugar  dentro do meu próprio corpo  ou do teu.
meus olhos vermelhos de insônia são o par perfeito dançando marejados conforme a música durante essa sessão inabalável de notas quentes, como o sol que faz la fora agora. e o embolo na garganta precede a urgência que bate e me derreto na frente do espelho ou na rua, as oito ou nove da noite. como você. eu sei.  é como sentir que o amor é solido e gentil como o dono daquela padoca em santa cecília.  e então eu eu fico. faço um show particular meio anos 70 em pleno metrô lotado até a estação da cinelândia, só pra te acompanhar até lapa.  eu fico e até seria sua amiga, mas a beleza de nós dois e a tua (física também, mas não só) nesse momento mínimo e nos outros em que me enxerga mesmo descabelada, súbita, não deixam meu egoísmo querer menos que o teu carinho, mesmo que ele venha num tapa, além da tua quinquilharia invadindo o meu espaço. eu gosto. dos clipes, grampos, espalhados junto com os teus pedaços.  o que quero dizer, é que há química. e não há matéria que me impeça de explodir e
na noite passada, num bar amassado no meio da rua eu esbarrei nos meus olhos a cerveja quente no copo borbulhava o esforço homérico em por os pés na rua sem quebrar as pernas numa tentativa frustrada de não pertencer a essa peça mal dirigida que me leva a atuar como um moribundo mendigando um pouco disto e daquilo que eu não sei o que é mas de qualquer forma não sustenta a minha fome de me acorrentar às palavras porque só assim eu existo e no vazio que se encontra dentro da minha carcaça e no bar e na rua e no copo de cerveja e nesta mini prosa que não faz o menor sentido: existir é o meu ato de coragem pra hoje.
o amor  me morde sutilmente  como quem degusta  qualquer porcaria  gourmet  e mastiga com os dentes  mais fortes que os  de um tigre dentes-de-sabre  me põe la no alto  tipo o que putim  fez com a rússia  me da uma esperança boba  de mudar a humanidade  e eu me sinto a própria  revolução socialista  outro dia me joga de um avião  sem para-quedas  bem no topo do everest  e eu tenho que descer  escorregando pela neve  mistura um monte de  assunto aleatório  no centro do meu estômago  e eu sempre caio  durinha  depois de uma convulsão  que só aconteceu  na minha cabeça
Caio nesses teus encantos mas não me levanto afim de que me estenda as mãos e os braços que ontem a noite eu sonhei envolver-me e de tão longos rodeiam minha vida e tonteiam meus pensamentos porque foges de mim como o diabo da cruz e que cruz é o martírio de querer-te
sair do proprio corpo poderia ser talvez o alívio a suspiro de descanso como o de um bebê quando recebe um afago e dorme ali eu me atiraria agora sem hesitar, sem pensar, sem abrir os olhos eu me jogaria que nenhuma altura parece alta o suficiente pra dar medo eu mergulharia agora no ar por que me parece mais leve que a água do mar sair do próprio corpo seria agora, com certeza o alívio.
quando senti saudade uma faca rasgou do peito ao ventre a água esfriou abruptamente sob minhas pernas e elas queriam voltar a trilha fácil e serena parecia pedra escorregadia de cachoeira que nunca se sobe foi arriscado voltar com o peito fervilhando mais que o sol de meio dia escaldando meus ombros ai eu notei que era amor.
Se me perguntasse agora se tenho algo a dizer, eu não teria. Eu já disse todas as coisas e provavelmente você não ouviu. Na verdade, você não viu e a culpa não é sua. Daí não da pra ver a minha sobrancelha arcada quando você fala de si mesmo como um rei e a minha cara de incredulidade, mas no fundo gostando de tudo; nem a minha risada quando você fala consigo mesmo distraído e eu sempre -sempre- imagino a sua cara fazendo isso, porque eu rio silenciosa pra não te desconcentrar. Que por falar em silêncio, quando eu me calo não quer dizer que eu queira desligar... eu só to esperando mais das tuas histórias. Quando eu era pequena, não tinha dessas coisas de ninguém me contar historias e por vezes eu quase dormi ouvindo as tuas. Não por desinteresse, mas por me sentir tão confortável com a tua voz que até me parece fácil dormir a noite toda sem acordar dez vezes por causa dos meus pesadelos. Enfim, isso não é um skit perfeito igual aquele do Gugu, mas eu deixaria tudo pra ser uma criança