Me demonizam. Eu sou, para eles, qualquer experimento científico que deu
errado, menos eu mesma. Eu sou o profano, o incompleto, a peça a mais
no quebra-cabeça e eu não me encaixo. Em casa, eu sou o disfarce, o
assunto que nunca tocam, a fase. Na rua, eu sou alguém até eles saberem.
No rolê eu sou a possível realização sexual de um homem qualquer. Mas
quando ninguém tá vendo, eu sou a dança estranha e feliz por ninguém
estar vendo; eu sou um quarto bagunçado que se ajeita bem na bagunça que
eu tenho por dentro e o alívio por ninguém estar vendo; eu sou a
preguiça, os desenhos de manhã, as leituras, a carência do cafuné de
mãe, mas principalmente o alívio por ninguém estar me vendo. E
assediando. E se afastando. E mudando de assunto. Aqui, onde eu me
escondo, eu sou eu e sou tão igual a você quanto eles. A diferença de
mim pra você, é que eu gosto dela.
não é que eu esteja sempre fugindo não é porque eu adio uma resposta adianto o relógio e os passos não é pela assimetria do espaço que não contribui pra que eu esteja perto é pela calmaria que não me abriga não me suporta então eu escorrego entre as pessoas como água corrente entre os dedos mas sempre correndo pra lugar nenhum.
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