Me demonizam. Eu sou, para eles, qualquer experimento científico que deu
errado, menos eu mesma. Eu sou o profano, o incompleto, a peça a mais
no quebra-cabeça e eu não me encaixo. Em casa, eu sou o disfarce, o
assunto que nunca tocam, a fase. Na rua, eu sou alguém até eles saberem.
No rolê eu sou a possível realização sexual de um homem qualquer. Mas
quando ninguém tá vendo, eu sou a dança estranha e feliz por ninguém
estar vendo; eu sou um quarto bagunçado que se ajeita bem na bagunça que
eu tenho por dentro e o alívio por ninguém estar vendo; eu sou a
preguiça, os desenhos de manhã, as leituras, a carência do cafuné de
mãe, mas principalmente o alívio por ninguém estar me vendo. E
assediando. E se afastando. E mudando de assunto. Aqui, onde eu me
escondo, eu sou eu e sou tão igual a você quanto eles. A diferença de
mim pra você, é que eu gosto dela.
o amor hoje é o jeito que eu acordei com o estômago remoendo as borboletas sem conseguir digerir as asas e elas ficam assim meio voando pra lá e pra ca fazendo cócegas na minha barriga ou o jeito que eu acordei naquele no meio do nada e o banho de cachoeira depois do sol invadindo meus cantinhos todos a água é tão gelada quanto o frio que da na espinha da nunca aos pés quando os dedos dela te tocam dos dedos entrelaçados e em cada espaço entre um corpo e outro há de se ver sem falhas um universo e mais outro e mais mil pois cada um tem o seu e cultiva ali, naquele espaço entre um corpo e outro uma fusão de cada um o amor, hoje... é o jeito que os olhos marcam cada detalhe como fossem câmera fotográfica pra mais tarde deitar a cabeça no travesseiro e ver tudinho refletir num sonho bom.
Comentários
Postar um comentário