um grito preso na garganta 
se esgueirando pelas linhas em branco 
com preguiça de ficar e 
marcar, ali, o vazio da manhã chuvosa 
além do comodo quase sem mobília 
que guarda por trás dos desenhos na parede 
um rasgo do estrago da solidão 

o cansaço às dez e trinta da noite 
estalando no finalzinho da coluna 
enquanto a juventude se preocupa 
em esbanjar o próprio tempo nos bares lotados 
afirmando pra si mesmas a própria independência 
tão dependente ainda quanto eu sou 
do meu quarto 

a insônia dando boa noite pro sol 
às cinco da manhã 
e a vontade de ficar ali até... 
mais os vinte e poucos anos 
que sacodem a cama anunciando um 
apocalipse interno: 
o fim está próximo

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