eu contei com você na vida, como quem conta com o dinheiro da passagem pra dar um rolê, como quem conta com um cafuné de mãe pra dormir em paz, como quem conta com os carneirinhos contados pra destruir a insonia. eu acreditei em você como uma criança que acredita em papai noel, como dona Ana naquela época que acreditava no jogo de tarô que vinha na revistinha do João Bidu. eu quis você como quem quer ganhar na mega-sena da virada, como quem quer alguém tanto que chega a deixar de querer. eu cuidei de você como quem cuida de um pote de ouro (ou um pote de sorvete no meu caso), como quem cuida do avô doente pelo fim da vida, como nunca ninguém cuidou de mim nessa vida. eu enfrentei o medo de você e eu se tem uma coisa nessa vida que eu sempre tive medo, essa coisa é justamente enfrentar os meus medos. principalmente o medo do escuro. eu chorei por você como um corintiano no fim do brasileirão. senti suas dores de madrugada e só esperei o outro dia chegar e tu me contar tudo que eu ja sabia. a minha solidão segurou a mão da sua, da mesma forma que eu queria segurar a sua. e no mês seguinte você foi embora. meteu o pé. vazou. e eu só fiquei. contando com você, acreditando em você, querendo você, cuidando de você, voltando ao meu medo de você, chorando por você, sentindo você e vendo a minha solidão voltar pra casa, encharcada, dizendo que "medo da chuva" do raul, não era mais a nossa musica. e eu só fiquei.
o amor hoje é o jeito que eu acordei com o estômago remoendo as borboletas sem conseguir digerir as asas e elas ficam assim meio voando pra lá e pra ca fazendo cócegas na minha barriga ou o jeito que eu acordei naquele no meio do nada e o banho de cachoeira depois do sol invadindo meus cantinhos todos a água é tão gelada quanto o frio que da na espinha da nunca aos pés quando os dedos dela te tocam dos dedos entrelaçados e em cada espaço entre um corpo e outro há de se ver sem falhas um universo e mais outro e mais mil pois cada um tem o seu e cultiva ali, naquele espaço entre um corpo e outro uma fusão de cada um o amor, hoje... é o jeito que os olhos marcam cada detalhe como fossem câmera fotográfica pra mais tarde deitar a cabeça no travesseiro e ver tudinho refletir num sonho bom.
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