eu contei com você na vida, como quem conta com o dinheiro da passagem pra dar um rolê, como quem conta com um cafuné de mãe pra dormir em paz, como quem conta com os carneirinhos contados pra destruir a insonia. eu acreditei em você como uma criança que acredita em papai noel, como dona Ana naquela época que acreditava no jogo de tarô que vinha na revistinha do João Bidu. eu quis você como quem quer ganhar na mega-sena da virada, como quem quer alguém tanto que chega a deixar de querer. eu cuidei de você como quem cuida de um pote de ouro (ou um pote de sorvete no meu caso), como quem cuida do avô doente pelo fim da vida, como nunca ninguém cuidou de mim nessa vida. eu enfrentei o medo de você e eu se tem uma coisa nessa vida que eu sempre tive medo, essa coisa é justamente enfrentar os meus medos. principalmente o medo do escuro. eu chorei por você como um corintiano no fim do brasileirão. senti suas dores de madrugada e só esperei o outro dia chegar e tu me contar tudo que eu ja sabia. a minha solidão segurou a mão da sua, da mesma forma que eu queria segurar a sua. e no mês seguinte você foi embora. meteu o pé. vazou. e eu só fiquei. contando com você, acreditando em você, querendo você, cuidando de você, voltando ao meu medo de você, chorando por você, sentindo você e vendo a minha solidão voltar pra casa, encharcada, dizendo que "medo da chuva" do raul, não era mais a nossa musica. e eu só fiquei.
é engraçada a espera a gente espera mesmo sabendo que não vem a mente cria mantras sobre nomes alimentando preces sobre aquela chegada e até quem é ateu reza pela hora em que vai ver aquelas pernas passando pela porta a voz no telefone... a mensagem que não chega e vira de novo essa estranha agonia de esperar e vigiar os centésimos dos milésimos dos segundos dos minutos do tempo que nunca passa e aquelas pernas não passam pela porta o telefone não toca a mensagem não chega, e... você não vem.
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