olha, eu sou o desajeito, entende? eu ando numa corda bamba em pleno
centro de uma via de mão dupla e enquanto eu atravesso no meio dos
carros, o amor passa por cima de mim e destrói o que me cabe. doeria
menos se fosse aquele caminhão da placa estranha que eu vi outro dia.
vê? eu sou o desalento. eu sou a construção desamortizada no fim da rua.
e o amor passa na porta, sem sequer cogitar a hipótese de parar pra
escutar minha história. tu vê? dos três mal amados eu sou um quarto que
nunca entrou naquela prosa porque o maldito do amor comeu eles tudo e
não sobrou espaço pra mim. porque eu sou o desequilíbrio, tu consegue
ver?
o amor hoje é o jeito que eu acordei com o estômago remoendo as borboletas sem conseguir digerir as asas e elas ficam assim meio voando pra lá e pra ca fazendo cócegas na minha barriga ou o jeito que eu acordei naquele no meio do nada e o banho de cachoeira depois do sol invadindo meus cantinhos todos a água é tão gelada quanto o frio que da na espinha da nunca aos pés quando os dedos dela te tocam dos dedos entrelaçados e em cada espaço entre um corpo e outro há de se ver sem falhas um universo e mais outro e mais mil pois cada um tem o seu e cultiva ali, naquele espaço entre um corpo e outro uma fusão de cada um o amor, hoje... é o jeito que os olhos marcam cada detalhe como fossem câmera fotográfica pra mais tarde deitar a cabeça no travesseiro e ver tudinho refletir num sonho bom.
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